Todo domingo faço a mesmo ritual: acordo a hora que eu quero, abro a porta para Dori (minha cachorrinha), escovo meus dentes e vou ler um livro (previamente escolhido na noite anterior para aquele momento "mágico").
E a leitura de hoje me inspirou bastante e resolvi compartilhar.
Para facilitar o entendimento, o texto foi extraído do livro "O retorno do jovem príncipe". É uma obra de ficção sobre a volta do pequeno príncipe no meio da patagônia. Um homem encontra o adolescente desacordado e, preocupado, resolve socorrê-lo. Quando o rapaz acorda, o homem percebe que não se trata de um jovem qualquer, mas de um príncipe muito familiar que cresceu e resolveu revisitar o planeta terra.
Desejo uma deliciosa leitura e muitos, muitos insights!
Tenha um domingo mágico!
Capítulo II
"Será que eu deveria acordá-lo? Não, pois precisávamos nos locomover, fosse para o norte ou para o sul. O que não poderíamos era permanecer ali.
Acelerei. Aquela vez não era como outras vezes, em que desperdicei tempo e vida conjecturando sobre o caminho tomar.
Eu estava mergulhado nesses pensamentos quando, após longo tempo dirigindo, senti faiscantes olhos azuis me observarem curiosamente.
- Olá - disse eu, lançado um rápido olhar para o jovem misterioso.
- Que máquina é essa em que nós estamos viajando? - perguntou ele, passeando os olhos pelo interior. - Onde estão as asas?
- Você quer dizer o carro?
- Carro? Ele não pode sair da Terra?
- Não - respondi, sentindo murchar o orgulho que tinha do automóvel.
- E ele não pode sair dessa faixa cinzenta?
Ele apontou o dedo em direção ao para-brisa, fazendo-me perceber minhas limitações.
- Essa faixa se chama autoestrada - expliquei, pensando comigo mesmo: de onde veio esse garoto? - E se sairmos dela a essa velocidade nós morremos.
- Isso é uma tirania. Quem inventou as autoestradas?
- As pessoas.
Diante de perguntas tão simples, as respostas me pareciam extremamente difíceis. Quem era aquele jovem que irradiava inocência e sacudia as bases do sistema de crenças que eu herdara?
- De onde você veio? - perguntei. - Como você chegou aqui?
Seu olhar me parecia estranhamento familiar.
- Há muitas autoestradas na Terra? - perguntou ele, ignorando minhas perguntas.
- Sim, são muitas, incontáveis.
- Eu estive num lugar sem autoestradas - disse o misterioso jovem.
- Mas em lugares assim as pessoas se perdem - observei, sentindo crescer, a cada minutos, minha curiosidade em saber quem era ele e de onde vinha.
- Mas quando não há estradas na Terra - retorquiu ele, imperturbável - as pessoas não pensam em se orientar pelos céus?
Ele olhou para cima.
- Durante a noite - refleti -, é possível se guiar pelas estrelas. Mas quando a luz do sol está muito forte corremos o risco de ficar cegos.
- Ah - disse o jovem. - Os cegos veem o que ninguém mais ousa ver. Eles devem ser as pessoas mais corajosas de todas.
Eu não soube o que responder. Enquanto o carro avançava rapidamente pela tirânica faixa cinzenta, o silêncio caiu sobre nós.